sábado, 27 de fevereiro de 2010

É apaixonante sofrer pelos outros


É apaixonante sofrer pelos outros. De qualquer forma mesmo. Seja sofrer por quem nos apaixonamos ou amamos. Sim todos sabemos que são coisas distintas. Paixão é passageira e, por exemplo, pode nascer antes mesmo de você conhecer a pessoa e morrer logo na primeira conversa. Já o amor supera qualquer coisa, aceita os defeitos, exalta as qualidades e entende que ninguém é perfeito e que sempre vai faltar algo na pessoa amada para essa perfeição, acabando com as expectativas, é, o amor aguenta até isso, às vezes com grande dor. Porém o amor necessita da paixão e de sua morte para acontecer, mas estas explicações de amor e paixão são pra outra hora. O que é um importante dizer é que nos apaixonamos por toda dor que fingimos inconscientemente quando estamos apaixonados e por toda real e “indesejável” dor que sentimos quando magoados ou não correspondidos por quem amamos. Se vocês acham que estou errado, me digam quantas vezes não escutaram por querer a música que lhes faziam lembrar e chorar soluçando por seus amores. Ou quem sabe os homens não encheram a cara dizendo que bebiam pra esquecer alguém e que no fundo sabiam que só iriam lembrar-se da pessoa enquanto bêbados. É viciamos mais em sofrer por amores e paixões do que por eles mesmos.
É apaixonante sofrer pelos e com os amigos. Saímos (saio) junto com eles enchemos a cara, rimos e vem alguma parte em que um de nós desabafa sobre um antigo amor, um problema de saúde ou um problema familiar. A partir desse momento todos se sentem emotivos por aquele amigo. Há os que ficam por perto e também os que saem quase correndo. Os que ficam até o fim se apaixonam pelo sofrer do amigo e ama sofrer junto a ele. E estes são os verdadeiros amigos: os que ficam.
Apaixonamos-nos de uma forma mais nobre quando lutamos por uma causa. Fazemos qualquer coisa por quem, muitas vezes, nem ao menos conhecemos. Damos a cara à tapa, a pele ao suor e trocamos os dias por noites pelos pobres e outros perdidos na sociedade como deficientes e dependentes químicos. Gostamos muito e nem ligamos de sofrer por uma causa que, tire muito da gente para ceder a quem precisa.
Chega a ser absurdo a paixão de sofrer por um filho, um irmão, um pai ou uma mãe. Não há dor maior que perder um familiar. Veja uma mãe que perde um filho esse acontecimento que quebra totalmente o ciclo da vida. Um filho não deveria jamais partir antes de sua mãe ou de seu pai. Espero que um dia Deus tenha uma boa explicação para isso. Uma mãe que perde um filho, nunca mais será a mesma, pois demonstra sua paixão pelo sofrer para que percebamos o quão grande e devastadora é a sua dor.
No fim, nós, seres humanos, somos apaixonados por sofrer. Shopenhaureanamente* falando nascemos e vivemos para sofrer. O ser humano tem um vazio imenso e insaciável de sofrer.
Jesus amou sofrer por nós e talvez Deus tenha nos dado seu primogênito, como exemplo para que aprendêssemos amar até o sofrimento por alguém.

*Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de Fevereiro 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro 1860) foi um filósofo alemão do século XIX da corrente irracionalista. Sua obra principal é O mundo como vontade e representação, embora o seu livro Parerga e Paralipomena (1851) seja o mais conhecido. Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o Budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Ficou conhecido por seu pessimismo e entendia o Budismo como uma confirmação dessa visão. Schopenhauer também combateu fortemente a filosofia hegeliana e influenciou fortemente o pensamento de Friedrich Nietzsche.

“ A essência da existência é a dor.”
Arthur Schopenhauer

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Schopenhauer

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Em dias nublados escrevo cada coisa. rs

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Apresento-lhes o senhor Nelson Rodrigues


MARGARIDA

Durante os meses de gravidez, houve toda sorte de palpi¬tes quanto ao sexo da criança. Menino? Menina? A mãe agarrou-se à parteira. Mas esta quis tirar o corpo fora. Tanto insistiram que ela sempre deixou escapar alguma coisa, embora com uma ressalva:
— Não é certo, não. Mas, pelas batidas do coração, deve ser menino.
Suspiro materno:
— Ah, eu queria tanto uma menina!
Protestavam: “Mas que bobagem! O primeiro filho deve ser homem!”. Edgardina era obrigada a explicar: “O negócio é o seguinte: menina faz mais companhia!”. O pai, Amadeu, não ti¬nha preferência: “Tanto faz, tanto faz. Eu topo tudo”. E, no dia do parto, foi até interessante. Amadeu, no corredor, gemia de dor de dente. De repente, abrem a porta, ele se arremessa e re¬cebe o impacto da notícia:
— Menina!
Estacou sem coragem de entrar: as lágrimas corriam gros¬sas e fartas e o rapaz abriu os braços para o teto: “Oh, graças, meu Deus; graças!”. No quarto, cansada de muito sofrer, a mu¬lher pediu: “Beija-me”. Adiante, nuazinha, em cima de uma toa¬lha felpuda, estava a menina, E, de repente, Amadeu tem a ex¬clamação:
— Ué! Minha dor de dente passou!

MARGARIDA

Durante vários dias, parecia bobo, de tanta felicidade. Confidenciava no emprego: “Tem a minha cara!”. De vez em quando, porém, mergulhava em meditação e desabafava: “Es-tou pensando no dia em que minha filha namorar”. Era enérgico e reacionário: “Não topo namoro de portão, esquina ou ci¬nema; tem que ser dentro de casa”. Os colegas achavam graça:
— Toma jeito!
Finalmente, no terceiro ou quarto dia, bate o telefone. Era Edgardina: “Vem correndo, Amadeu. Tua filha está morrendo!”. Atirou-se, em mangas de camisa; e, como o elevador demoras¬se, veio mesmo pela escada, como um louco. Quando entrou em casa, era tarde. Nunca se soube ao certo como foi aquilo. A menina, com quatro dias de nascida, teve uma agonia breve, quase imperceptível. Mal se sentiu quando morreu.
Os pais quase enlouqueceram. Edgardina recuperou-se mais depressa. As vizinhas, as parentas se debruçavam em cima de sua dor; usou-se muito o seguinte argumento: “Deus sabe o que faz”. Mas o que realmente a impressionou foi o que lhe disse uma tia, senhora de muita experiência.
— Quem sabe se, mais tarde, ela não ia sofrer muito? Quem sabe?
Em redor, houve o coro das comadres:
— Mulher sofre tanto!
O marido, porém, foi mais difícil de convencer. Queria so¬frer, fazia questão de cultivar a própria dor. Depois do enterro, deu a ordem: “Manda todos os ternos para o tintureiro”. E nin¬guém o dissuadiu do luto fechado. A própria Edgardina suge¬riu, a medo: “Mas eu sempre ouvi dizer que não se punha luto para recém-nascido”. Foi categórico:
— Se ninguém põe, eu ponho. Graças a Deus, tenho sen¬timento!
Ao mesmo tempo, anunciou que queria um novo filho, isto é, uma nova filha. A mulher quis achar que ainda era cedo etc. etc. Amadeu cortou as suas ponderações: “Não, senhora, em absoluto! Se Deus quiser, dentro de nove meses, eu terei outra filha, com o mesmo nome”. Na verdade, o que ele admitia, no seu desespero, é que a próxima filha seria a mesma, renascida.

A TRAGÉDIA

Nove meses depois, nascia um menino. A princípio, Ama¬deu não quis compreender: “Menino?”. Estava tão certo de que seria menina que experimentou um desgosto medonho. Quase blasfemou: “Não é possível, meu Deus, não pode ser!”. A famí¬lia, vendo a sua dor obtusa, já admitia a hipótese de uma psico¬se; houve resmungos: “Ora veja!”.
Começou, então, a luta contra a natureza, contra a fatalida¬de, talvez contra o demônio. Ano após ano, nascia uma criança naquela casa; e sempre menino. Amadeu encarniçava-se: “Hei de ter uma filha nem que o mundo venha abaixo!”.
Pouco a pouco, tomava-se de surdo rancor contra Edgardina, como se a mulher fosse responsável pelo sexo dos filhos. Ele esbravejava na presença das visitas: “Se a primeira foi mu¬lher, por que os outros não são, meu Deus?”. A mãe, em voz baixa, confidenciava a queixa para as conhecidas:
— Gozado! E eu é que pago o pato!
Ela, com efeito, enchia-se de horror da maternidade. Sem¬pre que tinha um filho, fazia, na hora, a pergunta: “Menino ou menina?”. A resposta não variava: “Menino”. Só faltava mor¬rer. Finalmente, o sétimo filho foi uma menina. Assim que cons¬tatou o sexo da criança, Amadeu foi com um cortejo de vizi¬nhos para o boteco da esquina. Com o lábio trêmulo, o olhar de alucinado, berrou:
— Pode beber todo mundo, que eu pago!
Tomou um pileque tremendo e comemorativo.

A NOVA MARGARIDA

Foi um descanso para todo mundo e, sobretudo, para Edgardina. Avisou em alto e bom som: “Esse negócio de filho, já sabe. Stop. Nunca mais, que eu não sou máquina de filhos, ora essa!”. Quanto ao Amadeu, era outro homem. Realizara o dese¬jo que era sua obsessão e podia piscar para os amigos: — “Já tive a filha. Agora vou viver a minha vida”.
Estava, porém, envelhecido. Casara-se tarde e as atribulações dos últimos anos o encheram de rugas e cabelos brancos. Celebrara, há pouco, o quadragésimo quinto aniversário. Os ami¬gos mais íntimos o chamavam de “o velho” e diziam, às garga¬lhadas: “Você não dá mais no couro”. Era uma blague, mas que tinha um fundo de verdade melancólica.
Em casa, olhando para a mulher, gorda, desleixada, sentia um gosto amargo na boca. Mas talvez continuasse na rotina implacável se, um belo dia, não encontrasse uma alegre conheci¬da dos seus tempos de solteiro. Era madame Ziza.
Muito dada e espalhafatosa, ela foi dizendo: “Tomaste um banho de desaparecimento?”. Contou que estava estabelecida, num lugar assim, assim, e prosperava de uma maneira desen¬freada. Baixou: “Sabes qual foi meu grande golpe?”. Ele quis saber e madame Ziza soprou a revelação:
— Os brotinhos! Só trabalho com brotinhos!
— No duro?
— Palavra de honra!
Despediram-se, afinal; e madame ainda insistia: “Aparece, aparece!”. Durante dias, meses e até anos, ele pensou, com des¬lumbramento e náuseas, nesse lugar onde meninas de família, simples colegiais, quase crianças, tinham a primeira experiên¬cia de amor infame. Por vezes, o assaltava a idéia de procurar madame. Mas pensava na própria filha. Confessava aos amigos: “Se eu fosse a um lugar desses, não teria mais coragem de bei¬jar minha filha”.
“Deixa de ser burro. Então, me dá o telefone de madame, dá?” Acabou dando. E dois ou três amigos que, em épocas diferentes, foram lá vinham fora de si. Contavam maravilhas: “Madame me arranjou uma menina de quinze anos, imagina!”. Surgiam outros detalhes: “Menina de família, filha de um pro¬fessor!”.
Durante horas e horas, Amadeu ficava ouvindo as minúcias mais vis. Insistiam com ele: “Vai lá, vai lá!”. Embora sentindo a tentação nas profundezas do ser, reagia:
— Isso é uma indignidade! Onde já se viu? Uma menina de quinze anos!

A INFÂMIA

Correu o tempo. E, afinal, chegou o dia em que Margarida fez quinze anos. Segundo as vizinhas, muito exuberante, era bo¬nita como uma pintura. Outros diziam: “uma adoração de pe¬quena”. Sobretudo os olhos chamavam a atenção, por causa do azul extraterreno. Houve uma grande festa de aniversário e quem visse a menina, na sua graça frágil e intensa, não esqueceria, ja¬mais, sua imagem.
No dia seguinte, na cidade, Amadeu dá de cara com mada¬me. Muita festa, de parte a parte, e, no fim, ela convida, formalmente: “Vem que eu tenho, pra ti, um broto espetacular! Uma coisa por demais!”. E insistiu: “Fabulosíssima!”. Amadeu, trans-pirando, duvidara: “Pode não fazer fé com minha cara”. A ou¬tra foi categórica: “Deixa de ser bobo. Faz fé com qualquer um. Eu mesma te juro que fiquei besta. Uma vocação, meu filho”.
Então, aquele pobre velho, que praticamente só conhecia a rotina conjugai, experimentou uma espécie de embriaguez. A aventura o seduziu pelo que oferecia de inédito, de sórdido, de abjeto. Deixou-se levar; sentia-se dominado por um delírio lúcido e terrível.
Subiu umas escadas, percebeu um cheiro de flores e, por fim, estava numa sala. Madame soprou-lhe: “Dois mil cruzei¬ros, hein? Tabela especial. Mas o artigo vale muito mais”. Ele esperou, em pé, com os ombros vergados ao peso de uma ve¬lhice subitamente maior e inapelável. Vem alguém, com passos macios, no corredor. É ela, só pode ser ela. Aparece, agora, e ele tem uma espécie de uivo.
Não pode ser e, no entanto, está diante dele, com um pija¬ma cinza, finíssimo, sua filha Margarida. A menina corre, foge. Ele segue no seu encalço e a segura no corredor. Ela pensa que o pai vai matá-la. Espera a morte e quase a deseja. E, súbito, Ama¬deu perfila-se. Diz-lhe, sem ódio, com uma ternura que resistiu a tudo:
— Eu não quero, Ouviste? — E repetiu, duas vezes, sem desfitá-la: — Nunca mais, nunca mais!
Matou-se, ali mesmo, a seus pés. Desde então, sempre que madame a chamava, Margarida experimentava uma brusca e agu¬da nostalgia do pecado. Queria dizer “sim”. Mas aparecia, diante dos seus olhos, uma cabeça grisalha e ensangüentada; e a meni¬na gritava, ao telefone, três vezes “não”.
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Ando sem tempo e confesso que sem saco de postar algo meu. Mas está aí pra vocês um excelente escritor e dramaturgo brasileiro eu indico a todos. Ótimo pra ser lido junto com um Café Forte. E eu estou aqui esperando uma resposta de e-mail do Excelentíssimo Senador Eduardo Suplicy, pro meu curso de jornal, curso muito empolgante. Passar bem pessoal.


sábado, 6 de fevereiro de 2010

não você


E você acorda assustado, suando, coração fraco
São vinte e três horas é quase fim
Corre até o banheiro acende a luz
Você tem rugas e cabelos grisalhos
E no espelho você se reconhece
Você volta para cama
São vinte e três horas e quarenta e cinco minutos é quase fim
E você sabe quando fechar os olhos
Não reconhecerá o sujeito no reflexo
São vinte e três horas e cinqüenta e nove minutos é quase fim
E por toda sua vida a cada dia
Você foi sendo cada vez menos você
Porque a sociedade te exigiu isso
Exigiu o nãovocê
Quiseram que você não tivesse tempo pra você
Que não usasse seu dinheiro por você
Quiseram o amor ao ponto que você não pôde dar, mas deu
Quiseram que você aprendesse de mais só por aprender
E não foi sobre você
Enfim quiseram tudo de você só não quiseram você
Em fim quiseram tudo de você só não quiseram você
É zero hora e não é o começo

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Ei pessoal não se tornem o “nãovocês”. E caramba, tô animado, agora sou bixo de Jornalismo aqui na minha cidade. Porra esse negócio de vida universitária é muito louco mesmo, já conheço incontáveis pessoas e estou apaixonado por umas duzentas garotas, isso tudo só em três dias rs. Até a próxima postagem pessoas.
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