quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Numa Distração de Segundos


Ontem no trânsito, cometi um barberagenzinha, estava num desses dias que a gente se distrai por qualquer bobeira e repentinamente após uma buzina provavelmente violentada pelo seu dono, ouvi um berro semi-humano:
-Tá querenu u que da vida irmauUUUuuUUUUuuuUuUuUuUuUUUUuUUuuuuUuUUuUuUUn?

E sei lá por que caí em reflexão por uma perguntinha dessas.
-O que estou querendo da vida?- Naquele momento parado no sinal, comecei a responder com minha imaginação. Em primeiro lugar me vi longe de tudo, do emprego, dos estudos, não que eu seja vagabundo, porém essas ações se tornaram maçantes de mais, as vejo apenas como um processo de alienação que vem tomando proporções cada vez maiores e nos deixando à beira de um surto. Nessa vaga viagem abandonei também celular, computador, TV e queimei os documentos não preciso de ninguém ditando como devo viver. Depois de livrar minha alma desses tormentos arranjei uma mulher simples e eu não precisava dizer o tempo todo o quanto a amava, pois ela sabia. Entretanto quando ela precisava ouvir “eu te amo” (todo mundo precisa) bastava declarar um poema e dar-lhe carinho. Ela sabia sambar e dançar forró e me ensinou dessa dança. Cozinhava muito bem, todavia fazia biquinho quando eu dizia que, sua comida ficava em segundo lugar depois da comida de minha mãe e logo se animava quando dizia que o café forte dela era sem igual. Quando ficava nessa inconstância que as mulheres ficam de TPM, eu apenas a abraçava forte e pronto. Como toda mulher de vez em quando fingia orgasmo. Até mesmo nossas brigas eram perfeitas. Tivemos dois filhos de olhos curiosos, crianças simples gostavam de livros e não de vídeo games. Os pequenos quiseram logo um cachorro vira-lata, chamado vira-lata. Enfim uma mulher simples que me completava e uma família linda. Minha mente nem se preocupou em criar uma visão física. Comprei um fusca, pois não há carro melhor, era meio barulhento amava-o mesmo assim. Peguei a mulher e as crianças, o cachorro e fomos pra longe do cinza e das cinzas da cidade. Passamos a morar numa casinha de sapé, lá plantávamos verduras, legumes e havia no fundo do quintal um pomarzinho. Perto da casa tinha um rio e vez ou outra, a gente seguia pra lá, eu tocava um violão, a mulher cantava, as crianças traquinavam não iam muito longe pra não se perderem, o cachorro perseguia e era perseguido por insetos. A gente contemplava a lua deitados na grama, os três com a cabeça em meu peito, e no radinho velho, ouvia-se sempre música brasileira. Nos dias frios era um bom lugar pra se ler um livro. E a gente envelhecia sutilmente e aceitando a idéia de que a morte vem, e que é a mais triste tolice prorrogá-la. A vida pareceu doce com sonhos fáceis de sonhar, nada de estudar por anos ou trabalhar por horas ou ser obrigado a roubar ou seguir cegamente uma religião ou mais uma série de “ous”. A vida é isso, a vida está nas coisas simples, porque há uma descomunal complexidade no que é simples. E eu estava ali respondendo o que queria da vida e quase podia tocar a mulher suave, as crianças espertas, o fusca sem luxo, o cachorro feinho, a casinha completa, o radinho velho, os sonhos fáceis... Aí o sinal ficou verde...

15/10/09

4 comentários:

Daniela disse...

Que legal ..
Viajei no texto ú.ú
Vc realmente libertou sua imaginação no memento \o
bjs

Letícia Gerola disse...

essas brisadas q agente dá nos lugares mais esquisitos...

- Lorenna R. disse...

Pow, o cara q berrou contigo queria te xingar e acabou ... te libertando de tantas ideias prontas: ser rico, bonito, malhar e retardar a velhice.

.-.

Maaas.. qts anos tu tens pra tá dirigindo ? Rs..
;*

Mari Frazão disse...

As coisas simples da vida, pra que algo melhor, o luxo fica quando a vida vai.
Amei o texto! :*

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